Depois que Angelina Jolie “chocou”o mundo com a notícia de que realizou uma dupla mastectomia, para evitar o câncer de mama, muitos leitores do site mandaram emails perguntando como era a cirurgia e do que se tratava.
O Circolare foi conversar com o mastologista e cirurgião plástico doutor João Carlos Sampaio Góes, diretor do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – IBCC para esclarecer algumas dúvidas. Confira o nosso bate-papo.
“Podemos classificar as pacientes em relação ao risco para câncer de mama em 4 categorias, a saber: risco normal, risco moderado, alto risco e muito alto risco. Para tal, utilizamos informações de fatores inerentes à paciente, histórico familiar oncológico, características celulares de lesões precursoras ao câncer na mama e análise genética para identificação da mutação do BRCA1 – BRCA2. As mulheres com risco moderado, têm risco elevado até 5 vezes o risco populacional. O grupo de alto risco apresenta risco elevado de 5 a 10 vezes, e o grupo de muito alto risco, apresenta risco acima de 10 vezes em relação ao grupo normal populacional. Portanto, devemos focar a atenção aos dois grupos de maior risco.
Três condutas clínicas se apresentam nesta situação. A primeira, mais simples, compreende um programa de rastreamento semestral com mamografia e ressonância magnética das mamas, porém, é importante saber que esta conduta não evita ou diminui a incidência do câncer, mas simplesmente visa um diagnóstico precoce para o seu tratamento em melhores condições.
Uma segunda abordagem terapêutica é através da anti-hormonioterapia a qual é realizada pela administração do Tamoxifeno, na pré-menopausa, e do Raloxifeno, na pós-menopausa, por período de 5 a 7 anos. Estudos mostram que a anti-hormonioterapia reduz o risco de câncer de mama da paciente de 20% a 40%, porém, devemos lembrar que este tratamento traz efeitos colaterais como o fogacho, secura vaginal, outros sintomas da menopausa, risco de trombose e maior probabilidade para o desenvolvimento de câncer de endométrio. Em função disto, deve-se fazer um controle da paciente para eventual suspensão do medicamento.
A terceira opção é a abordagem cirúrgica através da adenomastectomia bilateral profilática com reconstrução imediata, a qual induz uma redução no risco de desenvolvimento futuro de câncer da mama em 95%. É, portanto, o método mais eficiente quando o objetivo é evitar um provável câncer, sendo esta abordagem mais indicada nos casos de muito alto risco para câncer de mama com a mutação do BRCA1 e BRCA2 presentes (risco de 85%). Esta cirurgia vem sendo utilizada com maior freqüência uma vez que as técnicas de reparação plástica evoluíram muito nos últimos anos e nos permite realizar todo o procedimento em tempo cirúrgico único, de forma segura e com resultados estéticos semelhantes a uma mamoplastia de aumento com prótese de silicone. O procedimento é realizado através de pequena incisão areolar, procedendo-se a retirada do corpo glandular central da mama, incluindo-se os ductos terminais retro-areolares, preservando-se toda a pele, tecido gorduroso, aréola e papila. Para a reconstrução utiliza-se prótese de silicone de forma anatômica recoberta pelo músculo peitoral em seu pólo superior e sustentada em seu pólo inferior por uma tela de material absorvível. Realiza-se, ainda, enxertia de gordura junto ao tecido gorduroso subcutâneo para aumentar a espessura da interface de tecido entre a pele e o plano das estruturas que recobrem a prótese de silicone.
Devemos frisar que uma paciente que tenha alto risco ou muito alto risco para câncer de mama, não significa, obrigatoriamente, que a doença irá ocorrer, porém, os métodos atuais são bastante precisos para uma avaliação do percentual de predisposição para cada caso. Deve-se, portanto, realizar uma análise ponderada específica para cada caso onde além das informações médicas deve-se avaliar o posicionamento da paciente em relação a seu desejo, situação de vida e perspectivas futuras, fatores estes que deverão ser considerados no momento de decisão da conduta a ser tomada”.
Imagem: Circolare