Toda vez que imagino uma babá cuidando de crianças (no plural mesmo), vem à minha mente a nostálgica e utópica imagem da fantástica e carismática Julie Andrews em “Mary Poppins” e em “A Noviça Rebelde”.
Elas eram tão perfeitas, mas tão perfeitas (educadas, brincalhonas, respeitosas, com valores), que, no caso do último filme, a personagem chegou a casar-se com o austero pai das crianças (que era viúvo, frise-se!), a quem conquistou com sua doçura e disciplina e, mais importante, com o absoluto apoio e gosto dos enteados.
No entanto, num piscar de olhos, desanimo. Relembro que a vida não é um filme, que a realidade econômica e social brasileira não é fácil (ao contrário da Londres e Salzburgo relatadas na ficção) e que, infelizmente, dependemos de pessoas que nem sempre se assemelham às tão sonhadas Mary Poppins ou fraulein Maria.
Não desqualificando essas tão necessárias e valorosas ajudantes, que desempenham uma função extremamente relevante dentro de nossas famílias, a verdade é que, pelo menos para mim, não anda nada simples encontrar uma profissional que consiga atender às necessidades que ora esperamos.
Quando meus filhos eram bebês, foi mais simples. Encontrar uma enfermeira que fosse carinhosa, desse banho, alimentasse, respeitasse os horários e fosse diligente não foi complicado. Sou grata à essas queridas colaboradoras que me ajudaram muito em uma fase em que, como mãe de primeira viagem, tudo era novidade e me trazia muita insegurança.
Mas… meus filhos cresceram. Agora, enfrento o período dos “terrible two’s”, os quais, considerando que tenho gêmeos, tornam-se, muitas vezes, “terrible four’s”. E para encontrar uma babá com todas essas características e que, ainda, tenha psicologia para lidar com os momentos de crise, com as diferenças entre eles e com os hábitos particulares de nossa família?! Dá para chamar o gênio da lâmpada?
Tive babás extremamente brincalhonas, mas que pecavam na limpeza e organização. Tive outras que eram extremamente organizadas, mas que exigiam atenção como uma terceira filha. Outras, não saiam do whatsapp. E ainda outras queriam “domesticar” meus filhos seguindo seus próprios valores, sua própria educação, divergentes das nossas.
Então, meu Deus do céu, o que fazer?
Segundo Roberta Palermo, autora do livro “Babá/Mãe – Manual de Instruções”, o primeiro passo é demonstrar para a nova funcionária quais são os valores e rotinas familiares, com o fim de que estes sejam respeitados. E mais do que isso, “ficar em cima”, no sentido de vigiar e acompanhar o modo através do qual ela se relaciona com as crianças. Segundo Roberta, “Muitas vezes, os próprios pais deixam de participar da vida dos filhos por comodismo diante da presença da babá”. É aí que “a vaca vai para o brejo” e, quando nos damos conta, já estamos “pelas tampas”com a ajudante. Daí, ao meu ver, fica difícil insistir. Bye-Bye.
Verdade seja dita, ter uma babá em casa é, com o perdão da comparação, como educar mais um filho, que não é um filho propriamente (pois é adulta, professional e tem responsabilidades), mas deve se portar de acordo com as regras e princípios da família, assim como todos. Dá trabalho, enche a paciência, mas não tem jeito. Mais do que isso, também temos que nos atentar para dar e respeitar a autonomia delas, já que estamos confiando suas habilidades para cuidar das pessoas mais importantes de nossas vidas.
É importante destacar, ainda, outro problema. É frequente encontrar mães que se sentem incomodadas com a afinidade e intimidade que a babá tem com os filhos, sentindo-se preteridas e desnecessárias. A esse respeito, Roberta Palermo destaca que “Quando os laços afetivos entre pais e filhos são estabelecidos de maneira saudável nos primeiros anos de vida, não há nada nem ninguém que os substitua. Pais são pais. O que pode acontecer é a criança procurar a babá como válvula de escape diante da ausência deles”.
Ao meu ver, não vejo isso como uma preocupação. Se meus filhos demonstram afeto pela funcionária, sentem-se confortáveis com ela, sem irritabilidade ou rejeição, é sinal de que estão sendo bem tratados.
No entanto, é incontroverso que a questão não é nada simples e nunca será. A relação babá-filhos e babá-mães é capciosa e delicada, tanto para nós quanto para elas. É difícil conviver em um vínculo em que há, ao mesmo tempo, dependência e autonomia, intimidade e privacidade, confiança e desconfiança, recursos e escassez, amor e ódio.
Mas acredito, sinceramente, que estas questões fazem parte de uma maioria e é praticamente intrínseco aos que tem filhos e optaram por uma colaboradora. Sendo um pouco “Pollyana”, uma hora isso vai passar. Só não devemos ficar reféns das expectativas futuras e não usufruirmos do presente, com todas as dificuldades que temos que enfrentar. Eles só serão crianças uma vez…