Um tapinha não dói? – por Carol Ranieri Amorim
Este ano foi sancionada a “Lei da Palmada”que, embora subjetiva em sua interpretação, visa proibir “castigo físico” que cause “lesão”ou “sofrimento físico” na criança. Deixando de lado a questão de o quanto o Poder Estatal pode interferir na educação e criação familiar, esta lei aflorou questões acerca dos reais benefícios de se corrigir más condutas através dos castigos físicos.
Embora as “palmadas” sejam uma herança cultural proveniente desde a criação de nossos avós, debate-se muito hoje em dia, com amparo de relatos de especialistas, o quão educativo, de fato, pode ser a punição física. Afinal de contas, ao castigar seus filhos, seja da maneira que for, o que os pais objetivam é demonstrar, de maneira clara, que determinada conduta é inaceitável e não deve ser repetida.
Segundo a neurocientista e professora do Departamento de Farmacologia e Fisiologia na Universidade Drexel, na Filadélfia (EUA), Andreia Mortensen, uma educação baseada em agressividade não educa. O que ela faz é simplesmente ensinar a criança que, se ela não obedecer, apanhará. Mas, então, o que acontece quando o agente que pune não estiver presente? É aí que mora o perigo e onde o tiro sai pela culatra.
De acordo com a Dra. Mortensen, “quando essa pessoa (pai ou mãe) não está presente, abre-se uma oportunidade para fazer o errado. E assim ela (a criança) aprendeu a mentir, a esconder. E não aprendeu a se comportar bem por ter internalizado de fato valores morais, éticos, de respeito e empatia. Esse padrão pode ser levado para o resto da vida. Dessa forma não é preciso pensar, questionar, criticar, só obedecer”.
Logo, a criança muitas vezes agirá de maneira incorreta pela simples brecha, e não por ter internalizado os “porquês”de não agir de outro modo.
Não se trata, que fique claro, de deixar os filhos correrem soltos, sem referências comportamentais. Cabe aos pais a educação, ainda que seja necessário repreendê-los em determinados momentos. Mas isso não precisa ocorrer através de agressões físicas.
É claro que em determinados momentos a paciência se foi e, quando nos damos conta, um beliscão ou um tapinha já foram proferidos, ainda que de modo intempestivo e muitas vezes arrependido. Mas há maneiras mais sensatas e efetivas de se posicionar.Esta é a premissa da “disciplina positiva”, que visa a conexão familiar “ baseada num relacionamento saudável entre pais e filhos, com abertura para conversar, para se expressar tanto sentimentos felizes como tristes. Inclui também conhecimento, relacionado com a conexão. Importante também é se informar sobre o comportamento de cada faixa etária para entender o quanto a criança pode ter de autonomia e desejo; ajudar a respeitar autoridades, com base na confiança, e não a temer, o que é muito diferente; orientar limites, e assim dar uma estrutura com regras adequadas para a idade, que respeitem a todos; valorizar a cooperação familiar; dar bons exemplos (essencial); confiar em seu filho, o que ajuda em sua auto-estima; e entender que eles também tem sentimentos e desejos, que podem ser diferentes dos meus; além de ensinar empatia e exercer o diálogo familiar: “fale e escute seu filho”.
A psicóloga Eliana Moreira, especialista em comportamento infantil, ainda destaca que, “ao se punir com agressão, a criança que foi agredida se lembrará de quando apanhou e não do porquê apanhou, o que torna ineficaz o método adotado”.
Assim, a punição física causa a falsa ilusão de sucesso, a mera sensação de que “o recado foi dado e a lição aprendida”, o que não é verdade. Embora seja muito, mas muito mais trabalhosa a educação baseada na disciplina positiva, pois requer paciência, conversa e determinação, seu resultado é infinitamente mais proveitoso: reforça a auto-confiança, a auto-estima e sensibilidade da criança, além valorizar qualidades como honestidade, integridade, ética e respeito, inclusive pelas autoridades, sem a necessidade do jogo de força e poder.
Fontes: http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/09/28/noticia_saudeplena,150547/entenda-os-beneficios-da-disciplina-positiva.shtml
Dra. Eliana Moreira (psicóloga infantil) – email: [email protected]
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